Consumidores costumam mirar na velocidade na hora de contratar um plano de Internet, mas nem sempre a melhor maneira de avaliar o melhor serviço é o teste de velocidade
A busca pelo plano de Internet residencial invariavelmente passa pela pesquisa do melhor equilíbrio entre preço e velocidade de conexão. No entanto, as taxas de download prometidas pelo provedor, embora precisem ser levadas em conta, nem sempre refletem a qualidade do serviço contratado.
Na verdade, em muitos casos, essa correlação sequer existe: uma conexão de 25 Mb/s pode ser mais benéfica do que uma de 200 Mb/s operada por uma empresa que peca em outros parâmetros que afetam a experiência de uso. Mas o que é preciso saber para equacionar o problema?
Qual é a velocidade necessária para o dia a dia?
Planos de pelo menos 100 Mb/s se tornaram comuns entre provedores brasileiros, mas apenas uma pequena parcela dessa velocidade pode ser realmente útil. O WhatsApp, aplicativo mais popular do Brasil, tende a consumir entre 4 Mb/s e 5 Mb/s, dependendo do tipo de uso – chamadas de voz e vídeo, por exemplo, requerem mais banda.
No entanto, mesmo atividades mais exigentes, como o streaming de vídeos em alta resolução, podem dispensar os planos de Internet mais robustos do mercado.
Gaspare Bruno, CTO da Anlix, explica que os planos de banda larga mais simples disponíveis hoje no mercado deveriam ser suficientes para uma residência com múltiplos dispositivos conectados.
“Vamos dizer que dentro de uma residência haja duas ou três televisões nas quais estejam assistindo à Netflix na melhor qualidade possível, 4K de banda”, sugere o especialista. “Esse usuário não vai utilizar mais do que um plano de 50 Mb/s ou 100 Mb/s. Não vai precisar de mais do que isso”, garante.
Segundo o executivo de tecnologia, portanto, um plano de até 100 Mb/s deve ser, em um cenário ideal, o suficiente para atender à necessidade de usuários de streaming e demais tarefas que exigem um bom desempenho da rede. Esses casos de uso envolvem também, por exemplo, o streaming em tempo real em lives do YouTube ou outras plataformas similares.
Por esse motivo, o consumidor deve ficar atento a outras características do serviço para além da velocidade.
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Experiência de Internet
O conceito de experiência do cliente entra em cena quando se fala de escolher o melhor serviço residencial de Internet. No lugar da velocidade, portanto, o cliente deve saber pesquisar outros fatores que influenciam no dia a dia da navegação e têm o potencial de causar vídeos pixelados, travar jogos online ou atrasar o tempo para realizar downloads de arquivos pesados.
Um dos itens que merecem atenção é o lag (atraso ou latência) da banda, que se refere ao tempo médio de transferência de pacotes dos servidores do provedor até o computador do consumidor. Esse é um parâmetro que caminha lado a lado com a velocidade e, em alguns casos, chega a ser preponderante para obter a melhor experiência de uso.
“O cliente final vai ganhar muito mais sabendo que o provedor está entregando uma baixa latência para o YouTube, e que está entregando vídeos do Netflix sem ter que esperar muito tempo”, avalia Gaspare Bruno.
Já Guilherme Sengès, CEO da Anlix, ressalta que os equipamentos dentro da casa do consumidor também exercem um papel fundamental na experiência de Internet. Em uma residência com vários cômodos e obstáculos, por exemplo, o roteador deve ter a ajuda de repetidores para ajudar a distribuir o sinal de maneira igualitária no ambiente e evitar pontos cegos.
Além disso, o investimento em aparelhos equipados com a tecnologia beamforming também podem ajudar a obter melhor rendimento em tarefas mais pesadas, como jogos online e streaming de conteúdo em altíssima resolução.
No dia a dia, algo corriqueiro como ficar tempo demais longe do roteador pode acabar resultando em uma usabilidade ruim e, consequentemente, queixas ao provedor. “Às vezes o cliente tem uma Internet de 300 Mb/s e reclama que não consegue assistir a vídeos no celular, mas ele passa muito tempo na cozinha e o sinal está longe. Então o problema não é a banda, é levar o sinal do Wi-Fi até ele”.
Vale ou não confiar em teste de velocidade como SpeedTest?
A velocidade da banda larga não reflete, necessariamente, uma boa qualidade de conexão à Internet, mas ainda é um dos parâmetros envolvidos na avaliação de um bom serviço.
Ainda assim, é importante ter cuidado para saber como levar em conta os dados fornecidos por ferramentas de teste de velocidade: os números mostrados pelo técnico após a instalação do Wi-Fi ajudam a verificar se a velocidade contratada está sendo entregue pela operadora.
Por outro lado, o cliente deve ter em mente que os valores que surgem em medidores como o SpeedTest e o Fast.com, em regra, não influenciarão no desempenho da maioria das atividades online no dia a dia.
Tarefas como assistir a vídeos no YouTube ou Netflix, navegar na Internet e utilizar o WhatsApp – incluindo funções avançadas como videochamadas – tendem a consumir, em média, entre 10 Mb/s e 20 Mb/s, segundo especialistas da Anlix.
Por esse motivo, até mesmo os provedores costumam oferecer links de saída com limite menor do que a soma das velocidades máximas contratadas pelos consumidores, já que a maioria não precisaria e sequer conseguiria utilizar toda a banda o tempo todo.
A consequência disso é que planos com muitos megabytes por segundo (ou até de 1 Gb/s no caso de ofertas mais recentes de fibra) acabam cobrando mais caro sem, necessariamente, entregar um serviço melhor.
Um exemplo para ficar mais fácil
Um paralelo pode ser traçado com computadores ou celulares modernos: mesmo com muita memória RAM disponível, um aparelho pode ser mais lento que uma alternativa com menos RAM, mas um processador mais eficiente e um sistema operacional melhor otimizado.
Ao aplicar a mesma lógica à conexão de Internet doméstica, é possível até mesmo economizar sem sair perdendo, inclusive do ponto de vista de quem oferta o serviço.
Oferecer um plano de 500 Mb/s com baixa latência exige não só um link de saída menor, mas não requer roteadores Giga Ethernet, mais caros do que modelos convencionais Fast Ethernet. A economia proveniente da aquisição desses equipamentos, por sua vez, pode ser revertida para aprimorar a qualidade da conexão.
“Vale mais a pena comprar um menor e trazer o cache para dentro do provedor do que comprar um link alto com alta latência para servidores nos Estados Unidos”, recomenda o CTO da Anlix. “Banda não é experiência”, reafirma.
Quando vale a pena contratar um plano de Internet de alta velocidade?
Uma boa experiência de Internet não se restringe à velocidade, mas ela pode ter um peso maior em determinados cenários de uso. Grandes empresas que precisam rodar aplicações pesadas e manter dezenas de funcionários conectados o tempo todo são o tipo de cliente que precisa levar em conta o tamanho da banda oferecida pelo provedor na hora da contratação.
Esse pode ser o caso também de pequenos negócios, como restaurantes e cafés, que oferecem acesso livre ao Wi-Fi e têm diversas pessoas utilizando a conexão ao mesmo tempo.
De resto, é possível que a baixa latência e o posicionamento do roteador dentro de casa sejam suficientes para obter uma boa experiência de Internet – mesmo que a velocidade do plano contratado em um pequeno provedor não encha os olhos à primeira vista.
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